Patrimônio genético, soberania,
cultura, autonomia, resistência, empoderamento, biodiversidade, transformação e
renovação foram algumas das palavras-chave destacadas pelos participantes do Seminário
para Planejamento da Execução dos Projetos do Edital 001/2017 de apoio à
Produção, Resgate, Conservação e Armazenamento de Sementes Crioulas, realizado
pela Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR), nesta terça (24) e quarta-feira
(25). O evento acontece no Centro de Formação da SDR, em Itapuã, na
capital baiana, com o objetivo de alinhar as estratégias para a implantação das
Casas de Sementes e das Unidades de Multiplicação de Sementes.
Durante a abertura, o secretário
estadual de Desenvolvimento Rural (SDR), Jerônimo Rodrigues, destacou a
importância do planejamento para a execução das ações: “Sairemos desse evento,
que é a continuidade de um processo de organização do edital de sementes, com
um planejamento estratégico. É uma alegria ver todas as áreas da secretaria
envolvidas na construção de um projeto tão valoroso, que possui muitos
desafios, englobando, além das sementes vegetais, a questão das mudas e do
melhoramento genético do rebanho. Esse edital propicia um entendimento melhor dos
territórios e o que cada um está fazendo, para que possamos apoiar e, assim,
fortalecer a agroecologia e a produção de alimentos saudáveis, com autonomia
das comunidades e a autonomia e soberania da nação brasileira”.
Rodrigues reforçou que é
necessário apontar saídas para a relação com os poderes públicos municipais,
prefeituras e consórcios, um arranjo com a ação do Estado, além de envolver as
universidades e órgãos de pesquisa como a Empresa Brasileira de Agropecuária
(Embrapa).
Para
Adriana Sá, da Coordenação da Associação Regional de Convivência Apropriada ao
Semiárido (Arcas), o edital era muito esperado por todo o Território de
Identidade Semiárido Nordeste II, que conta com mais de 52 mil agricultores
familiares, que trabalham as sementes e guardam ano a ano: “O Território vem
fazendo um trabalho de formiguinha, mas com o edital, a gente pode apoiar
outras casas de sementes, fortalecer as existentes, divulgar e anunciar as
sementes, um material que está na invisibilidade. Considero um marco para o
Estado apoiar essas iniciativas milenares dos agricultores, que precisam ser
vistas e valorizadas”.
Diversidade biológica
Maria Aldete Fonseca, da
Embrapa, ressaltou que é uma iniciativa importante para animar, informar e
capacitar técnicos, que possam executar a implantação de casas de sementes.
Ação faz parte de um movimento não só nacional, mas internacional, de guardiões
de sementes, pessoas que guardam as sementes para cultivar no ano seguinte. Ela observou aindaque as sementes crioulas
preservam a diversidade biológica e são adaptadas à realidade de cada local e
ao próprio sistema de cultivo praticado pelos agricultores familiares e povos e
comunidades tradicionais, sendo bem diferentes das variedades melhoradas e
transgênicas, cultivadas utilizando fertilização e defensivos químicos.
“Essas sementes são
fundamentais para a soberania e segurança alimentar e esse movimento pioneiro,
que está acontecendo aqui na Bahia, é uma referência para o nosso país e para o
mundo, porque em nenhum outro estado do Brasil houve essa mobilização do
Governo para aprovar editais para a implantação de casas de sementes, que devem
ser valorizadas, principalmente porque têm as organizações sociais à frente
disso”, afirmou Fonseca.
Flávio Antônio Bernardo,
coordenador do projeto de assistência técnica e extensão rural (ATER), da Assessoria
e Gestão em Estudo da Natureza Desenvolvimento Humano e Agroecologia (Agendha),
no Território de Identidade Itaparica, falou da expectativa com o
edital: “As comunidades, especialmente as quilombolas e indígenas, precisam ter
outro olhar para as sementes crioulas, porque são poucos ainda os que trabalham
com as essas sementes e as têm guardadas em suas casas. Esperamos que as
comunidades se mobilizem e se sensibilizem com essa questão importante”.
Participam do seminário,
coordenado pela Superintendência da Agricultura Familiar (Suaf/SDR), os
técnicos que acompanharão as Organizações da Sociedade Civil (OSC) na execução
dos projetos contemplados no Edital de Sementes Crioulas, e gestores da
Superintendência Baiana de Assistência Técnica e Extensão Rural (Bahiater/SDR). Também estão envolvidos na ação, que está
beneficiando 459 agricultores familiares, técnicos e gestores da Companhia de
Desenvolvimento e Ação Regional (CAR/SDR), Superintendência de Políticas
Territoriais e Reforma Agrária (Sutrag/SDR), Coordenação Executiva de Pesquisa
Extensão e Inovação Tecnológica (Cepex/SDR), e Coordenação de Desenvolvimento
Agrário (CDA/SDR).
Para o superintendente da
Suaf, Marcelo Matos, essa ação é fundamental para a soberania dos povos e
nações, neste momento de enfrentamento do monopólio de sementes no mundo:
“Trocar e guardar as sementes crioulas, além de ser de extrema importância, faz
parte da cultura dos povos e comunidades tradicionais e agricultores
familiares”.
Programação
A programação do encontro conta
com palestras como a da Preservação do Patrimônio Genético, através da
organização das comunidades, por Maria Aldete Fonseca, da Embrapa e Executando
as Políticas Públicas Otimizando os Recursos Públicos – Aplicação dos Recursos,
pela Drª. Ivana Luckesi, da Procuradoria Geral do Estado (PGE) e Juliana
Rodrigues da Secretaria Estadual de Administração (Saeb); e Debate sobre
desafios e estratégias para a Implantação das Casas de Sementes, dentre outras
atividades.
Redação: Diego Farisan